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Páis em crise


Colocando o tênis pela manhã, sentado na cama ouvindo Almost Blue, perguntando o porquê de ainda tenho de me curvar todas manhãs e ir para escola, quando saio na rua para ir até lá encontro um amigo na rua com duas garrafas de vinho, pedi um gole, sequei metade da garrafa e subi em direção a escola. Estava atrasado, ontem trouxe uma garota aqui em casa que conheci em uma festa sábado, tinha sentado do meu lado no sofá, a observei mexendo no celular, estiquei meu braço e alcancei as bebidas que estavam cima da mesa, dei um longo gole, ela guardou o celular no bolso, me aproximei dela ficando do seu lado. Começamos a conversar, me apresentei como escritor, sei que tem muita gente se apresenta como escritor mesmo não sendo um e na minha vida além de escrever só bebia e fumava, a decadência jovem, tentava fazer alguns desenhos e ganhava dinheiro fazendo qualquer trabalho, nunca nada fixo, morava com minha mãe, bancava a comida, luz e essas coisas, então assim não morria de fome por gastar o dinheiro do arroz ou algo assim, em uma das minhas saídas pelo mundo.
 Conversamos por uns 20 minutos e então a beijei, tinha um rosto negro, pela lisa e estica, tinha traços asiáticos, olhos eram um pouco puxados, tinha um belo corpo, enquanto nós beijamos a blusa dela acaba caindo e ela fica com um dos peitos com o sutiã para fora da blusa, falei que não deixaria cair, ela tinha me dado a missão de ter que ficar puxando quando caia (não fiz meu trabalho com êxito, algumas vezes aparecia mas ninguém viu) e ficamos ali por tempo se beijando, conversando e bebendo.
 Se levantou e disse que ia no banheiro, olhou nos meus olhos e perguntou
  - Quando eu voltar você vai estar aqui ainda?
  - Não estou em condições de prometer nada - dei um beijo nela e ela saiu.
 Levantei, perguntei se alguns dos meus amigos que estavam ali se queria ir embora, dois disseram que sim, passei pela mesa onde as bebidas estavam, peguei um vinho uma cerveja no bolso e duas na mão, era uma caminhada até em casa, deveria ser 3h da madrugada, demoraria uma meia hora ou mais.
 Fui para casa, tomei um banho, fritei carne enquanto fumava um baseado, almocei (meu dia seria longo, precisava de um café da manhã reforçado), passei no meu quarto, vesti a camiseta trad. da mancha verde, fui para o ponto de encontro, estávamos em umas quinze pessoas, mais da metade estava virado de outro role e já bêbados ou com a lousa suja.
 O com a lousa suja, foi pro outro lado da rua e começou a discutir com um cara na frente do posto de gasolina, no mesmo posto que ontem à noite eu ouvi a explosão e hoje de manhã descobri que foi naquele posto, alguém explodiu o caixa eletrônico, discutiram por pouco tempo, começando a brigar, cada soco que um dava, errava cinco e cada chute acertado, caia no chão duas vezes, era uma briga entre dois caras sendo que os três cachorros atacavam o lousa suja, uma das brigas mais cômicas que já vi. Depois que ele caiu no chão e os cachorros começaram a puxar sua perna, atravessei a rua, ajudei ele a se levantar, acabei chutando um dos cachorro que veio me morder sem motivo e no outro ainda fiz carinho, mundo cheio de opostos, o outro cara ainda não tinha ido embora, mandei ir embora logo e ficou por ali mesmo, andei até ele e mandando ir embora, o lousa suja não parava de ir pra cima dele, tinha que separar a briga a cada instante, tentei acabar com a briga, era só ele ir embora, apenas, acabei perdendo a paciência empurrei ele e vi sua mão se fechando, então levantei a guarda e dei cincos socos seguido no seu rosto, só assim foi embora, separar brigar e acabar batendo em alguém era algo que sempre acontecia, evitava briga, era alguém algo, gostava de brigar, mas evitava, que era inútil, sempre vinha briga por qualquer que seja o motivo, então aceitava o que a vida me causou e brigava.
  Íamos para uma viagem de 6 horas até o Rio de Janeiro, até chegar na sede da torcida, era 1h30 de viagem, por isso nós encontramos 4h30 da manhã, tendo que estar na estação de metrô 5h30, tudo cronometrado, chegamos no horário, nem sempre é assim, mas sempre tentamos cumprir o horário. Chegamos no ponto de encontro onde todos estavam, agora era cada um subir no ônibus e partir, não tinha lugar para todo mundo, então ia revezando, tirei do bolso seis beck bolado e começamos a viagem, até chegar no rio de janeiro queimamos mais de trinta e seis baseados, mais de dez litros de vodka e incontáveis latinhas de cerveja. Quando ficava olhando a paisagem, meu corpo dava apagões e eu dormia, acabava sempre acordando com um tapa na cabeça, caravana ninguém dorme, chegando no RJ, inúmeros morros e favelas, sempre tentei entender os conflitos e a geografia de lá, como era explicito a diferença social, o morro dava visão pros prédios do boy e não era só um morro, era todos morros, dava visão pro que rio é, a diferença que é criada dentro desse estado, com pessoas sobrevivendo a madrugadas, pó, armas, trafico e polícia, troca de tiro frequente, com menores de 14 anos usando aks 47 que custa R$ 60.000,00 e ninguém nunca sabe de onde veio, então os menor segue resistindo resguardando o morro, os falcões do morro continuam defendendo aquilo que foram criados para fazer, o soldado perfeito, criado sem acesso à educação, criado com acesso a armas, criado sem acesso a qualquer lazer, criado com acesso de lazer atirando em latinhas porque o campana amigo do pai dele, deixou atirar pra brincar um pouco, tive um amigo do meu pai assim também, sei atirar desde os treze anos, primeiro brincando atirando em latinhas, depois caçando no meio do enorme sitio que ele tinha, aprendendo a sobreviver desde sempre. Chegando perto do estádio, uma revista, pensei em esconder o isqueiro, reclamam por qualquer coisa, mas acabei encontrando outro no chão, que depois alguém ficou com ele, nosso ônibus era o último a ser revistado, o pm me olhou, deu duas batidas na minha cintura e mandou eu entrar no ônibus. Dentro do estádio do maracanã no segundo tempo, dava para ver dois morros, deveria ser o corcovado, com o céu em tons de rosa e laranja, um dos melhores pôr do sol que presenciei, Palmeiras ganhou de 1x0 contra o fluminense, a volta da caravana ia ser uma festa, dentro do estádio cantando os noventa minutos sem parar, mesmo rouco, cantando e pulando.
  Na volta da caravana, clima de festa total, mesmo fazendo sei lá a última vez que dormi, o dia inteiro sem comer, não tinha um real, as vezes aparecia algum pacote de bolacha, me fazia aguentar mais algumas horas sem comer, depois de algumas horas cantando, de madrugada já, fiquei olhando as luzes das cidades enquanto voltava pra SP, todas as milhões de vidas acontecendo nesse instante, com a possibilidade de que tudo que você possa estar fazendo alguém está fazendo no mesmo instante, que em algum país do mundo outra pessoa da mesma idade voltando pra casa depois de uma viagem pra outro estádio assistir seu time. E é muito mais fácil amar um time do que alguma pessoa, mesmo que o time te faça sofrer eternamente, sempre o time vai existir, a não ser que vá a falência, que é outra história.
   Acabei chegando segunda-feira em casa, por volta de umas seis horas da manhã, apenas tirei os tênis, subi pro meu quarto e me joguei na cama, olhei meu celular, a garota da festa tinha me chamado no WhatsApp, a nossa história se resumiu a mais dois encontros, poderia escrever como foi e a garota surpreendente que ela foi, mas não é esse tipo de texto.

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