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Viagem a Marília

Sai para andar pela cidade, tudo novo, tudo desconhecido, gostava disso, qualquer rua aqui ou ali poderia me perder e fudeu, só restando a boa e velha mente humana para se lembrar do caminho, andava do lado de uma rodovia, enquanto andava imagina um eu no futuro, andando por rodovias e pedindo caronas pela America Latina. Seguia indo reto com um sol forte brilhando sob minha camiseta preta, estava de tênis sem meia, suavam meus pés, continuei andando, passando por lojas de construção, mercados, alguns bares com o litrão custando 5 reais que quando avistei, fiquei feliz por ser barato e pensei passar por aqui depois, passei pela fábrica da Nestle, o ar exalava chocolate sentia vontade de andar e seguir o cheiro para poder pegar um pouco de chocolate, do lado da fábrica tinham caminhoneiros lavando seus pratos ou comendo, observava todos detalhes dos caminhões, pensava em uma vida na estrada, quando criança eu amava caminhões, até joguei jogos de simulação de caminhoneiro quando quase adolescente, realmente gostava disso, hoje em dia até que parece combinar com o meus desejos, penso em viajar por todo lugar e viver por ai, mudou o fato de agora ser mais livre e não precisar de um caminhão para andar pelo Brasil inteiro, segui andando olhando para frente. Acabou a fábrica e avistei uma pracinha, imaginei que a pista de skate estaria lá, lembrando da minha época de skatista, toda adrenalina e diversão nessa vida, desde correr de seguranças em shoppings para roubar mercados e sai de role, andar chapado ou bêbado, era algo engraçado, principalmente se tiver alguma queda, pensei em voltar a andar, desisti logo da ideia.
Olhei para a pista, olhei para os lados, achei ruim o lugar, tinha uma avenida passando dos dois lado dela, ainda por cima avistei uma viatura entrando em uma rua perto da avenida de baixo, as pistas que sempre fui eram intocadas em cantos, não era tão visada como essa, não tinha ninguém na pista, andei por ela e subi em um dos bowls*, sentei, fiquei pensando na policia, como era ruim correr o risco de ser preso, por querer ficar em uma pista, lendo um livro e fumando um baseado, parecia idiota, olhei para capa do livro e li “Princípios básicos do direito politico” ri e pensei o policial me enquadrando, encontrando o baseado e o livro, me xingando e perguntando que noia que lê ou só jogava de lado sei lá.
*bowl: como se fosse uma piscina vazia, onde se anda de skate dentro.
Sai da pista e fui para outra saída diferente da que entrei, do outro lado, encontrei um lugar que dava pra ficar e fumar, era um muro em L e eu fiquei na quina, olhei para o chão e tinha pinos de cocaína vazio, pontas de baseado e algumas garrafas quebrada, falei na minha cabeça que eu seguia os lugares certos onde tinha droga, acendi o baseado, fumei, olhava para atrás as vezes ver se alguma viatura não passava, mais uns tragos e parei de fumar, procurei no chão algum maço de cigarro vazio para colocar a ponta do beck, já que eu vim para cá apenas com 3 baseados, fui dois ontem e esse o último, como salvação de mais um baseado faria um com as três pontas de baseado. Quando voltei, tinha uns garotos andando, tipo crianças de 7 ou 10 anos, um garoto de vermelho encostado no fundo, fiquei lendo as vezes abaixava o livro olhava para eles brincando, passou um tempo, um cara passando, todo estilo rapper, corrente de “ouro”, blusão, o garoto de vermelho perguntou 
-Oh, não tem um bic (uma marca de isqueiro) ai não?” — com o homem respondendo “tenho não mano”. 
Olhei tudo, pensei se eu falava que tinha um no bolso, passou uns 30 segundos pensando, assoviei e olhei pra ele 
-Tenho bic aqui — e veio vindo em minha direção, era um garoto negro com uma descendência indígena, sentou do meu lado e acendeu o cigarro, pensei que ia apenas acender e voltar para o fundo, perguntou se não tinha ainda um baseado comigo e fiquei pensando no que eu tinha de fazer com a ponta -”tenho só uma ponta” — o garoto olhando para mim dizendo -Não da nem pra dá uns traguinho?” — com eu falando que não. Perguntei onde poderia comprar maconha por aqui, ele apontou para onde a viatura tinha entrado — No pé do morro — dizendo. Falei da minha situação de maconha e perguntou da onde eu era, falei de São Paulo e ele abriu um sorriso perguntando como era morar aqui, imaginei se todos adolescentes ou jovens de cidades de interiores do estado pensava em vir para São Paulo achando que aqui é o país das maravilhas, perguntei a idade dele, parecia novo e fumando cigarro, respondeu que tinha 14 anos, perguntou a minha e disse 17. Conversamos por um tempo, logo depois passava um garoto pela pista e o garoto de vermelho chama ele, vem em nossa direção, me cumprimenta, cumprimenta o garoto, começaram a conversar e fiquei de lado, depois comecei a ouvir a conversa deles, falavam sobre correntes no pescoço, o garoto mostrava uma corrente de ouro com um pingente de munição de .38 e o outro com uma folha da maconha, o que acaba de chegar pediu pra trocar de corrente com o outro e o o garoto dizendo que não e falando que tinha roubado sei lá onde, o que chegou agora, vestia uma camiseta azul e usava shorts, com um chinelo marrom, perguntou se o garoto de vermelho tinha seda e ele disse que não, depois perguntando se eu tinha, falei que não, mas que tinha apenas celulose (um tipo de seda transparente, semelhante a um “plastico”) e que era ruim de bolar, o garoto disse “deixa que eu bolo”, com de azul falando “pra fazer pastel” — riu, “vou fazer um fininho” — o garoto falou que ia pegar um caldo de cana ali de graça, depois levantou-se e correu pela pista, em direção a uma barraca na rua do lado, voltou com um copo e perguntou “quer maluco?” falei que sim, entregou na minha mão, dei um corte e passei para o garoto, gostava de que nossa classe, sempre divide as coisas com os mesmos, pegou a maconha do bolso, deu uns pedaços na mão dele, pedi para dichavar, pensei na minha mente que era bom colaborar com alguma coisa bolando o beck, porque eu ia fazer algo. Dichavei e coloquei na celulose que estava na mão do garoto, ele começou a bolar, bolar, enrola daqui e depois não conseguiu pedindo para o de azul bolar e ele rindo por que o outro não conseguiu bolar, então, rapidamente bola o bekc, pede um bic, entrego o meu, acende e começa a fumar, depois passa para o garoto, depois passa para mim, com o garoto falando para o outro que eu era de São Paulo, ai perguntaram onde tava morando — respondi “Nem sei onde eu to, só sei o caminho até a casa do meu tio” — depois ficou um silêncio, continuávamos a fumar o beck, começou um assunto sobre tatuagens, o garoto disse “queria fazer um palhaço na perna” — passando a mão pela perna com uns machucados, levantei meus shorts azuis e mostrei minha tatuagem para ele, — respondeu — “daora, um bandido” — sendo minha tatuagem uma touca ninja, com duas aks 47 atrás e embaixo escrito resistência.
O que vestia camiseta azul, avistou um amigo na praça andando de bicicleta e acenou chamando ele em nossa direção, respondeu gritando algo e veio andando. Passou o beck de um em um, acabou minha vez e passei para o que acabou de chegar, respeitando sempre a admirável lei que existe fumando baseado que era “roda”, sempre de um e um, quem chega depois fica por último, eu gostava de outra lei também, que fazia era que quem acendeu o beck, morria com o beck, sempre no fim passava para quem acendeu. Depois todos nós na brisa, o garoto olhando para minha coxa e perguntou que livro era aquele, (Contrato social — Rousseau) e falei um livro, mostrando-lhe, esticou o braço e pegou, folheou, olhou um pouco as palavras, chegou no capítulo um e leu o seguinte paragrafo: “O Homem nasceu livre, e se encontra em toda parte sob ferros. Acredita-se de tal modo senhor dos outros, que não deixa de ser seu escravo. Como ocorreu esta mudança? O que a pode tornar legítima? Acredito que posso resolver essa questão, (apenas uma nota, que enquanto eu escrevia isso, tava chapado e procurei o livro porque não tinha isso decorado, então procurei pelo quarto, sem querer bati umas coisas no guarda roupa e não posso fazer barulho porque meus avós estão dormindo na sala em um colchão e acordaria eles e sentisse o cheiro de maconha pela casa, só fui escrever esse trecho no outro dia).
Pensei que era a primeira vez na vida que o garoto de correntes roubadas, camiseta vermelha e shorts azuis, leria algo desse tipo, senti dó, dele ser mais uma criança que se tornou assaltante novo e todas essas coisas, da vida no crime ser curta, antes falaram sobre um dos amigos deles que foi preso naquela pista que nós estávamos, senti-me bem por oferecer alguma oportunidade comisca para o garoto, com tudo que falei e o livro, só que essa não vai ser a verdade, bem, espero que não, entregou-me o livro e não disse nada, depois o que chegou de bicicleta foi embora, um pouco depois o garoto de azul, passando um tempo e foi se indo, o de vermelho, fiquei um tempo ainda ali, observando o movimento, levantei, fui embora, dei tchau pro menor e fui voltando pela rodovia, chegando na casa que estou aqui nessa cidade, meus avós estavam aqui e meu tio (estou dormindo nessa outra casa do meu tio, com meus avós). Ainda estava um pouco chapado, deitei em um colchão senti a brisa e o conforto de um colchão, que imaginei nunca saber como se faz um, bem uma informação desconhecida, ninguém sabe fazer colchões, levantei, comi uma maça, suculenta maça, falei para mim mesmo que aquela era uma ótima maça, voltei e deitei, um dia agitado para quem não sabe nem o nome da rua onde está se “hospedando”.
Matheus Kriger (27/07/17)

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Seis horas da manhã, eu estava ali, a vendo de calcinha e sem sutiã, levanto, pego uma cadeira que estava perto da janela, sento e espero o sol nascer, Anne acorda, pergunta o que estou fazendo sentado ali, levanta e me da bom dia, caminhando para seu banho, continuo a olhar pela janela, na vista da janela dava para ver uma rua movimentada, olho para aquela rua e vejo a mulher que já me envolvi algum dia e lá estava ela nos braços de outro e rindo, ela nunca foi de dar bola para mim, ficamos por um tempo, ela não gostava muito do jeito que eu era, tudo acabou com ela sumindo da minha vida. Anne volta do banheiro, e por faz massagem em minhas costas enquanto olhando o sol nascer, falei pra mim mesmo "você não percebe que quero ver o sol nascer em paz e estou sofrendo porra", ela não fez  nada, não merecia ouvir isso. Mas o que faço é apertar tua bunda e fazer-lá sentar em meu colo. Anne, sai do meu colo e vai até a cozinha e diz que vai fazer algo para nós, levanto da cadeira,